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João Heitor Montans Condé entrevista o Mario Feres em 2 de Dezembro de 2010.

Matéria publicada no Blog do JHeitor em 2/12/2010 JHeitor – Para começar, Mario, quando foi que você optou pelo piano como seu instrumento principal e quando resolveu se mudar para Ribeirão Preto? Mario Feres - O piano foi o último dos instrumentos que eu aprendi. Claro que "fucei" nele desde pequeno e isso hoje considero estudo e contato, a curiosidade é a mola propulsora do aprendizado! Na verdade eu não o escolhi como principal; as circunstâncias de trabalho e mercado ditaram isso! Tem menos pianistas do que violonistas, bateristas, guitarristas. O Brasil é o país do violão e nossos compositores pianistas são poucos, como Ernesto Nazaré, Custódio Mesquita, Ari Barroso, Radamés Gnatalli, Tom Jobim, Ivan Lins ... Quantitativamente, não se comparam aos compositores violonistas, muito mais numerosos. Gosto de compor canção no violão, pois tem caminhos que ajudam, mas o piano é melhor pra entender-se e escrever música e arranjo. Cabe toda a Orquestra dentro dele! Ribeirão veio depois do carnaval de 1993. Eu precisava sair de Marília, pois não tinha mais mercado de música por lá. Escolhi Ribeirão porque gostava da cidade; já tinha passado muitas férias com primos por aqui e meu irmão já era médico formado pela USP e residia na cidade havia 13 anos. A Vânia se mudara antes um pouco, e então juntei meus trapos e vim tentar a vida e o amor em Ribeirão. Cá estamos há 18 anos. JHeitor – Logo após o falecimento de nosso Maestro Maior, Antônio Carlos Jobim, você foi convidado a fazer uma temporada junto com a banda do falecido Maestro, então comandada por seu filho, Paulo Jobim. Conte-nos como isso se deu. Mario Feres - Costumo dizer que Ribeirão me deu isso! O Paulo Jobim já era amigo do Pessoal da EPTV para quem tinha feito já dois trabalhos musicais de composição e arranjo para especiais de TV: "O Canto da Piracema", com a Simone Guimarães (esse foi premiado) e "A Rota do Sol". Então ele vinha às vezes fazer Shows por aqui. Uma vez, a Rosana Zaidan e o Zé Márcio me assistiram tocar com a Vânia num Restaurante Francês. Nosso repertório era muito “jobiniano” e eles gostaram da gente e nos convidaram! Isso mesmo, “convidaram”: - Querem fazer um show com o Paulinho Jobim? Respondi: - É assim? Só querer? Então queremos! E assim foi! Me lembro que chamamos o Inácio (baterista) e o Pereira (contrabaixo) e preparamos nossa casa para o ensaio. Ele (Paulo Jobim) chegou à tarde. Tocamos e tocamos. Ele viu a viola da Vânia, deu-lhe o serviço e ela topou. À noite tocamos nosso primeiro show com ele numa casa chamada Chopp Loko! Depois de um mês ele ligou e nos convidou pra tocar numa "SEMANA JOBIM" organizada em Ourinhos –SP. Aceitamos na hora e assim formamos o "Paulo Jobim Trio" e tocamos por aí durante quase 13 anos. JH – O grupo vocal “Os Cariocas” que foi grande sucesso nos anos 1950 e 1960, convidou você para gravar com eles. Como foi essa experiência? Mario - A gravação com Os Cariocas foi também emocionante! De repente eu estava gravando com os meus ídolos, o grupo que sempre admirei e ouvi.Isso eu devo ao produtor do disco, o João Samuel, um cara sensacional! Tenho uma história ótima com ele: o João Samuel é de Igarapava e um dia, quando eu tocava numa casa de noturna de Ribeirão, ele entrou, me cumprimentou e me disse: você é um grande arranjador. Foi você que arranjou "Cosas del corazón" do Dedé Cruz, não foi? Eu disse que sim, mas isso já tinha 7 ou 8 anos. Ele era organizador do Festival de Igarapava e amou meu arranjo. Ficamos amigos nesse dia e quando soube mais tarde que eu estava morando no Rio, me convidou pra gravar a faixa "Você vai ver", do Tom Jobim no CD dos Cariocas. Isso foi agora em 2009. JH – Hoje você se apresenta com sua esposa, a cantora Vânia Lucas e outros músicos daqui da cidade. O tipo de música apresentado por vocês, de grande qualidade, tem tido boa aceitação junto ao público, nessa atualidade onde parece que a maioria das pessoas tem predileção pelo “forró” e o sertanejo? Mario - Eu gosto de música boa, seja sertaneja, clássica, barroca, samba ou cha cha cha. A música nem sempre é boa e nem sempre é arte. Às vezes é entretenimento somente e isso tornou-se um grande produto pra se vender, acabou roubando os espaços que haviam pra quem quer fazer e consumir música pela música, por ser verdadeira, por ser arte! Acredito que a música sempre encontra seu espaço. Temos, no Brasil, excelência em produzir música popular de vários estilos, assim como o Japão tem excelência tecnológica, mas o que se faz pra vender é que ocupa-se dos mesmos veículos de comunicação que antes serviam à arte, ao lazer, ao entretenimento, à cultura, e hoje praticamente só serve ao comércio! O Big Brother vende as moças que vão posar nuas depois da fama, a novela vende os produtos e a moda que seguirá na próximas estações, os programas de entrevistas vendem aquilo que querem que seja consumido. Tudo é um grande comércio, e então resta ao músico que não está dentro de um desses esquemas procurar saídas alternativas, como a internet, por exemplo, pra divulgar seu trabalho. Há órgãos que ainda promovem cultura nesse país como o SESC e o SESI, os editais de alguns Bancos e tudo tem se resumido a isso. Faz 4 ou 5 anos que vamos tocar e dar “workshops” fora do país. Isso é também uma alternativa e cada vez mais procuramos alimentar esses convites! Em 2011 vou gravar na Itália a convite de um saxofonista de lá, meu amigo, muito bom por sinal. Gravaremos dois temas de minha autoria no disco dele, Silvio Zalambani. Depois pretendo retribuir o convite e mostrar nosso trabalho no Brasil. JH – Ser um instrumentista e não um cantor de sucesso, por exemplo, no Brasil, não é um pouco desanimador para você e outros músicos mais ou menos no mesmo barco? Mario - Sou feliz com o que sou e uma coisa não impede a outra. Uma hora dessas alguém pode gostar do Mario cantor, não é? E se uma produção minha faz sucesso, como o CD da Vânia Lucas que eu amo ter feito, pra mim é o mesmo. É vitória, é gol! O sucesso não é diretamente proporcional à falta de qualidade; é possível fazer sucesso e ser bom. Aliás, antes era esse o caminho natural do sucesso, não é mesmo? O Chico Buarque teve sucesso na sua carreira por ser muito bom, assim como o Caymmi, o Tom Jobim e outros craques nossos, não é? JH – Por último agora, algum projeto para o futuro? Fique à vontade para dizer o que vier à cabeça. Mario - O meu projeto agora é gravar meu CD autoral, registrar minhas composições em disco. Acho que é o caminho natural de quem compõe. Demorei um pouco demais pra isso mas agora quero fazer disso minha principal meta!

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