Erika de Andrade - Minha história com o Mario começou há muito tempo.
por Érika de Andrade
Um vez fui na Hípica, numa festa do queijo e vinho, e ouvi um piano de longe, muito bem tocado, e me espantei com o som que alguém tirava daquele piano.
Aos poucos fui me aproximando e ao mesmo tempo me surpreendendo positivamente. Eu, estudante de música e pianista, adorava encontrar pessoas que me chamavam atenção musicalmente. Senti essa emoção, esse talento absurdo duas vezes na vida: uma quando ouvi o André Mehmari com no máximo 14 anos tocando na Recreativa, e essa noite, quando ouvi o Mário tocando. Acredito que a canção era Eu te amo, de Tom e Chico.
Nesta mesma noite perguntei: quem é o pianista? Ele, recém chegado a Ribeirão, já começava a deixar sua marca de qualidade, nas músicas que interpretava.
Alguns anos depois, nossos filhos estavam estudando na mesma sala, e conheci o Mário pai, envolvido com a escola, preocupado e atuante, em todos os sentidos. A professora da classe, saudosa Inês, em uma das reuniões de classe nos compartilhou uma notícia triste. Estava com a mesma doença que acometeria o nosso amigo. Vânia e Mario cantaram e tocaram lindamente uma canção para ela, e todos se emocionaram muito, ao ouví-los.
Depois de algum tempo, Mario assumiu as aulas de música do Ensino Médio na escola Waldorf, e se tornou meu colega de trabalho, eu lecionava no ensino fundametal, junto com a profa. Suzana. Trocávamos idéias, dicas, repertório, possibilidades e estratégias para lidar com as crianças e adolescentes. Este foi um período muito feliz para mim, pois ouvia o Mario tocar piano, cantar, fazer arranjos com os meninos e meninas, via o prazer dele em compartilhar um repertório riquíssimo da cultura popular brasileira. Discutíamos sobre a importância da moçada conhecer nossos gêneros musicais, os compositores importantes que ajudam a construir nossa identidade enquanto povo. Mario nunca me disse não. Mario me ajudava em tudo.
Outro marco importante foi na realização do congresso de pedagogia waldorf, realizado na escola em 2009. Os professores cantaram um arranjo meu da música Correnteza, do Tom Jobim e Luis Bonfá, e ele nos acompanhou ao piano. Foi uma linda experiência, que jamais esqueceremos. Lembrando que o show de abertura também foi dele, em conjunto com a Vânia, Paulinho e Bruno Barbosa.
Mais tarde, por conta dos compromissos no Rio, Mario precisou se desligar como professor da escola, mas nunca se afastou. Esteve presente, atuante, participativo, incentivador. Ano passado, dia 20/04 trabalhamos juntos na produção do show Romance Barato, que envolveu um número grande de pais do 8o. ano. Toda a renda arrecada foi doada para a poupança da sala, e assim, pudemos ajudar nos custos da peça de teatro apresentada no final do ano pelos alunos, nossos filhos.
Não foi só desta vez. A doação que Mario e Vânia fizeram à escola, aos alunos e professores foi imensa. Estava sempre pronto, disposto, feliz por ajudar. Nas festas juninas, nas festas semestrais foi percussionista, tecnico de som, violonista, cantor, animador, e o melhor, fez tudo isso com alegria, vontade, amor, doação...enfim, qualidades, valores, que o faziam ser o Mario amigo, parceiro, colega, pau pra toda obra.
Não me esqueço de uma manhã de setembro. Faríamos a comemoração do dia da Independência do Brasil, e me deparei com o Mario no portão da escola às 7:30 da manhã. Fiquei surpresa e contente com a presença dele. Disse:
--- Oi, Mario, que bom que está aqui. Vamos cantar o Hino nacional à capela, não quer nos acompanhar?
--- É claro... Que horas?
--- Agora...
- Opa, então vamos lá...
Era assim... Com ele era assim. Não tinha tempo quente, não tinha barriga me dói, não tinha se...
E foi o Hino Nacional mais lindo que ouvi na vida.
Tenho que contar das harmonias que ele ensinava ao Thomaz, meu aluno, filho dele, para acompanhar a classe ao violão.
Ele, todo gentil, dizia que gostava de ajudar, contribuir. Outra vez, ensinei o Thomaz a cantar uma música: o Alguém no céu, Danilo Caymmi, e alguns dias depois estava uma gravação linda do Mário ao piano, e do filhote, com a voz ainda fininha, mas afinadíssima, como todo filho de peixe é...
No caso do Tho, filho de peixes muito grandes...
Junto com o email veio a recomendação: não conta pro Thomaz que eu te mostrei, pois ele morre de vergonha... Algum tempo depois contei o segredo, enchendo o Tho de elogios merecidos, pela belíssima interpretação.
Em fevereiro deste ano, depois da primeira cirurgia, o Mario e a Vânia estiveram na escola, para ouvir esta mesma canção, agora tocada no violão pelo Tho...e cantada pela classe do 9o. ano na cerimônia de recepção dos alunos do primeiro ano. Foi tão bonito vê-los lá, apoiando o filhote...curtindo as conquistas da classe...
Sempre fui tiete deles...onde tocavam, lá estava eu, para me deliciar com suas músicas.
Um grande abraço
Erika de Andrade
Postado por
Jose Marcio Castro Alves
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Que lindo depoimento, Erika!Obrigada por dividir isso com a gente. Beijo da Rosana Zaidan
ResponderExcluirLindo e emocionante, de dar nó na garganta.
ResponderExcluirMas sabemos que em algum lugar muito bonito ele continua o seu trabalho...
Grande abraço...
Fabiana A. Carvalho