Perdemos Mário Feres, por Rosana Zaidan
Amigos a gente conta nos dedos da mão, dizia meu pai. Mário Féres, um dos maiores pianistas que o Brasil já teve, entrava nessa conta. Talentoso, alegre, entusiasmado e disponível, ele era sempre o mais sorridente e o mais amoroso de qualquer grupo. Paulo Jobim, o filho de Tom, o conheceu aqui em Ribeirao Preto, em 1994 e não o deixou mais. Viria ainda uma vez a Ribeirão Preto para fazer novo show com Mário e a caríssima mulher dele, também minha irmã, a cantora Vânia Lucas, em maio. Fizeram vários aqui e em outras cidades. Paulo Jobim convidou Mário para escrever algumas partituras de Tom no songbook definitivo que fez com o resgate de toda a obra do pai. Por conta desse relacionamento, Mário também fez piano para o Quarteto Jobim, substituindo Daniel Jobim, o neto de Tom, algumas vezes. Com o violoncelista e maestro Jacques Morelembaum, foi a Hannover e muitas outras cidades europeias, onde tocou nos melhores palcos a obra jobiniana. Dele dizia outro amigo, José Márcio Castro Alves, que o acompanhou diariamente em sua incrível e inacreditável despedida de 51 dias num leito de hospital: “é o único Tom Jobim possível”. Mário também cantava. Contava piadas. Participava de espetáculos no Rio e em São Paulo. Era craque no piano, mas podia tocar qualquer instrumento. E que produtor musical. E que amigo. Que aglutinador de artistas de todas as correntes. Arranjou e compôs músicas para vários especiais na EPTV. Fez vários discos. João Viviani, outro grande pianista de Ribeirão Preto, fez com ele seu último disco. Mário partiu agora há pouco. Nos deixou mais pobres, mais carentes de alegria. À Vânia, sua mulher, Luísa e Thomas, seus filhos, fica o legado de sua arte e de sua generosidade incomparável. A nós, a lembrança de um ser iluminado, um doce menino, um delicioso amigo, um fantástico artista.
(30/4/1967- 01/04/2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário