Feis – Num reveillon em São Carlos. Somente quando chegamos na cidade me informaram que das 23h às 2h iríamos tocar apenas músicas suaves para uma platéia seleta. Depois é que as portas seriam abertas para o público. Aí me deu aquela tremedeira, por causa de tamanha responsabilidade: o cachê era generoso e os músicos inexperientes. Transmiti otimismo a todos, escondendo a minha preocupação. Não deu nem 20 minutos de som e todos os casais largaram a ceia e começaram a dançar. Aplausos e mais aplausos. Depois das duas da manhã, então, com toda aquela moçada animada lotando o clube, o baile "pegou fogo". Foi memorável. O êxito dessa apresentação espalhou-se e posteriormente ficou difícil achar uma data na agenda do conjunto.
Diário – Então o grupo foi se modernizando?
Feis – Sim, até que consegui comprar um caminhão, pois usávamos cerca de 25 caixas de som, mais de 20 microfones, indumentárias e outros acessórios. Certa vez um empresário me procurou e disse que na Hípica de Campinas nunca aparecera uma banda que agradasse o associado no carnaval. E lá fomos nós. Levei cinco "transetes" (bailarinas) e fomos ovacionados. Sete horas da manhã e não havia como deixar o palco.
Diário – Cite mais alguns eventos marcantes.
Feis – Foram muitos, principalmente quando me apresentei com meus filhos no famoso programa "Almoço com as estrelas", do Airton Rodrigues e Lolita, na TV Tupi. No tradicional "Baile das Personalidades", em Piracicaba, abrilhantamos shows de Pedrinho Mattar, Isaurinha Garcia, entre outros. Também acompanhamos Luiz Ayrão, Jorge Ben e Agnaldo Rayol. O Transa Som tinha repertório variado e agradava aos mais diferentes tipos de público. Alguns de nossos profissionais se caracterizavam de Maria Bethânia, Cauby Peixoto, Raul Seixas e Edit Piaf e davam um verdadeiro espetáculo.
Diário – O Transa Som encerrou as atividades depois de 26 anos, em 1998. Por quê?
Feis – Pelos mesmos motivos da orquestra, ou seja, as dificuldades com o ensaio. Meus filhos já estavam residindo em outras cidades, cada qual seguindo sua profissão, tornando-se inviável a continuidade do conjunto.
Diário – Como o senhor "administrava" calotes, brigas no salão, embriaguez e outros acontecimentos próprios de bailes?
Feis – Bom, é difícil você apontar uma banda que nunca tomou um calote ou qualquer prejuízo financeiro. Mesmo sabendo que o cano poderia acontecer, a gente, pelo respeito que sempre nutriu pelo público, nunca deixou de tocar. Antigamente os contratos eram informais, às vezes só na palavra. E o pagamento era feito após as apresentações. Com o tempo, tentava-se negociar com o caloteiro para que o prejuízo não fosse total. Hoje é tudo diferente. Ninguém canta e toca sem pagamento antecipado. Quanto a brigas, não tenho nenhum fato relevante pra contar. Em todas nossas apresentações, graças a Deus, prevaleceram a animação e o respeito do público.
Diário – Mas os músicos tomavam uns "gorós" pra manter o pique, né?
Feis – É evidente que sempre alguma coisa escapa. Mas eu era muito rígido, não admitia em hipótese alguma misturar bebida alcoólica com trabalho. Após os shows, tudo bem, o pessoal entrava no uísque e cerveja. Lembro-me de uma passagem por Três Lagoas (MS). O baile fervia e todo mundo queria saber como o Transa Som conseguia manter aquela energia por tantas horas. Até que uns diretores entraram no camarim e só viram água mineral. Ficaram boquiabertos.
Diário – O senhor alguma vez se decepcionou com a música?
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